Mudança do nome de parque em Contagem é defendida por professores e estudantes

Mudança do nome de parque em Contagem é defendida por professores e estudantes

Colégio Santo Agostinho, naquele município, iniciou campanha para trocar nome que homenageia bandeirante pelo da nação indígena que ele dizimou

O Colégio Santo Agostinho, de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, transformou uma audiência pública realizada nesta quinta-feira (8/5/25) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em uma comemoração pela iminente vitória em uma luta de mais de três anos para rebatizar uma área de preservação ambiental (APA) naquele município, trocando o nome de um bandeirante do seculo XVII, Fernão Dias, pelo nome de um povo indígena que ele ajudou a exterminar: Cataguás.

A vitória definitiva deve acontecer com a provável aprovação, na Assembleia, do Projeto de Lei (PL) 1.841/23, de autoria da deputada Beatriz Cerqueira (PT), que efetiva a troca do nome do atual Parque Fernão Dias, uma área de 98 hectares (ou quase 100 campos de futebol) que se divide entre os municípios de Contagem e Betim.

A audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALMG exaltou não apenas a futura aprovação do projeto, mas principalmente o exemplo do esforço de conscientização histórica realizado pelo Colégio Santo Agostinho, por seus professores e alunos, algo ressaltado pela deputada Beatriz Cerqueira durante a reunião.

“Essa audiência é uma grande aula, e vocês são uma inspiração para compreender o quanto pode ser feito a partir da escola, o quanto esse lugar é importante e merece ser protegido, assim como nossas professoras e professores merecem ser respeitados e protegidos.”
Beatriz Cerqueira
Dep. Beatriz Cerqueira

Se o PL 1.841/23 virar lei, o nome da Área de Proteção Ambiental (APA) Parque Fernão Dias passará a ser APA Parque Cataguás. O nome atual celebra o bandeirante paulista Fernão Dias Paes Leme, que ficou conhecido como “O Caçador de Esmeraldas”.

Na justificativa que acompanha o PL 1.841/23, Beatriz Cerqueira lembra que, segundo a antropóloga Berta Ribeiro, autora do livro “O Índio na História do Brasil”, os Cataguás (também conhecidos como Cataguases) foram a etnia indígena que mais sofreu com a ação escravizadora dos bandeirantes em Minas Gerais.

A professora de história Inez Grígolo Silva e o professor de ciências Moacir Moreira, ambos do Colégio Santo Agostinho, recordaram a campanha iniciada em 2017 para revitalizar e mais tarde renomear o parque estadual. Logo no primeiro ano, fizeram um mutirão de limpeza que juntou três caçambas de lixo. Foram muitas visitas a autoridades, um abaixo-assinado e muitos debates escolares.

A professora Inez citou estimativas de que a região Central de Minas Gerais contava com até 150 mil indígenas antes da colonização  portuguesa. “Porque hoje são apenas cerca de 20 mil indígenas? Os bandeirantes foram responsáveis pela prática do genocídio e o apagamento dos indígenas em Minas Gerais. Em nosso município, nenhum espaço público faz referência aos indígenas e à luta deles”, criticou a professora.

Também presente no debate, a vereadora Moara Saboia, de Contagem, disse que nem conhecia o povo Cataguás antes do debate sobre o nome da área de preservação.

Importância ecológica e social do parque também é ressaltada

Moacir Moreira, por sua vez, lembrou a importância da área de conservação para o controle de temperatura da área urbana e como uma parada importante na rota de aves migratórias. Na mesma linha, a deputada Bella Gonçalves (Psol) ressaltou a importância social do parque, segundo ela muito utilizado pelas escolas, pela economia solidária e por outros tipos de eventos.

Estudante da 1ª série do ensino médio do Colégio Santo Agostinho de Contagem, Júlia Luísa Debona Altoé explicou porque considera importante o envolvimento de todos  no resgate da memória de um povo indígena exterminado. “Eles não existem mais. Se não defendermos o seu legado, eles serão esquecidos”, afirmou ela. “São meus filhos que vão usar este parque”,  completou Júlia,  adicionando outro motivo para seu envolvimento pessoal.

Diversos representantes indígenas também  participaram da audiência pública. Professora de geografia formada pela PUC Minas, pesquisadora e militante indígena do povo Puri, Iaçã Puri integrou a mesa da audiência pública e elogiou a iniciativa dos estudantes  de trocar o nome de um “perseguidor, torturador e escravagista”  pelo nome do povo que ele dizimou. Ela destacou a importância de se referir a um território “com um nome que se pareça conosco”. “Saúdo os estudantes que se dispõem a entender o que é isso”, comentou Iaçã Puri.

A iniciativa dos estudantes também foi elogiada pelo presidente do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental Estadual Parque Fernão Dias e servidor do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Marcus Vinicius de Freitas. “O nome é muito apropriado, porque os indígenas, de forma muito harmônica e sustentável, cuidavam do meio ambiente. A gente acredita que a mudança do nome é muito relevante, e a instituição de ensino e os alunos são para mim o que há de maior relevância no projeto”, disse Freitas.

Talvez antes mesmo da votação do projeto pelo Plenário, os estudantes do Colégio Santo Agostinho de Contagem podem voltar à Assembleia de Minas para serem homenageados pela campanha bem sucedida. Presidenta da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, a deputada Beatriz Cerqueira anunciou que agendará uma reunião com esse objetivo.

 

Fonte: Professores e estudantes defendem mudança do nome de parque em Contagem – Assembleia Legislativa de Minas Gerais / Legenda da foto em destaque: Professores, estudantes e militantes indígenas se uniram em favor do novo nome para o parque Foto: Daniel Protzner