Elogio da Loucura

Elogio da Loucura

Por Keity Pontes

Se você tivesse que escolher hoje uma pessoa para escrever sobre você, quem seria? A Loucura se escolheu, pelo menos no clássico “Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotterdam, nossa indicação da semana.

Escrito entre 1509 e 1511, o livro está longe de ser ultrapassado; pelo contrário, conversa de forma direta com o nosso tempo. A obra nasce no fim da Idade Média, período em que Estado e Igreja caminhavam lado a lado. E como não é à toa que essa época também ficou conhecida como “Idade das Trevas”, já sabemos que essa combinação não dá certo. Quando poder e religião, lei e pecado, justiça e inferno se confundem, o que sobra para nós é algo limitado, estreito, aquém das nossas possibilidades e diversidades. Foi nesse contexto de restrições amplas, inclusive intelectuais, que Rotterdam encontrou uma saída brilhante: o uso da inteligência para burlar o sistema.

A narrativa é construída em primeira pessoa e, como o título anuncia, é a própria Loucura quem escreve seu elogio, já que estava cansada de esperar que alguém o fizesse. Na voz dela, Erasmo dispara críticas afiadas contra todos os sistemas dominantes da época: governo, religião, economia, filosofia e mais. Sob o disfarce da Loucura, ele mostra como tudo estava corrompido, como o ser humano era subjugado e como a maioria sofria para que poucos mantivessem poder, riqueza e privilégios. Protegido pela perspicaz dualidade entre dizer o que quer e colocar isso na conta de ninguém menos que a Loucura, Rotterdam sussurrou para ouvidos atentos verdades incômodas e veladas, enquanto se resguardava das limitações impostas pelo momento histórico.

“Elogio da Loucura” é um livro que nos lembra de onde viemos e nos provoca a pensar para onde queremos ir. Por isso, ele é a indicação da semana do Entre Pontes, aqui no Notícias de Contagem. Afinal, se você não é apaixonado por literatura, é porque ainda não encontrou o livro certo, e estamos aqui para te ajudar nessa busca!

Até a próxima semana!