Pesquisa que oficializou samba como patrimônio cultural de Belo Horizonte apresenta resultados

Realizada em parceria com a UFMG, iniciativa resgata a ancestralidade e explica a trajetória do samba em território mineiro
Ao longo dos últimos anos, o projeto Horizontes do samba atuou na elaboração de um inventário participativo e de um dossiê que embasaram o reconhecimento do samba de Belo Horizonte como Patrimônio Cultural da cidade. A parceria entre o Coletivo de Sambistas Mestre Conga, a Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de BH e o Projeto República: núcleo de pesquisa, documentação e memória da UFMG mobilizou a colaboração de grupos e coletivos culturais e de mestres do samba para traduzir a importância cultural e histórica desse estilo musical. O dossiê pode ser baixado por meio deste link.
Os resultados da pesquisa, que contou com a participação de vários pesquisadores da UFMG, foram apresentados na manhã desta quarta-feira, dia 18 de junho, em evento no Museu da Moda. Na ocasião, foram discutidas as sugestões das ações de salvaguarda propostas pelo projeto, que visam à constituição de um conjunto complementar de ferramentas educacionais para a ampla disseminação da informação e dos conteúdos apresentados pela pesquisa.
Valorização do samba como herança cultural
A ideia do projeto surgiu em abril de 2021, após a live Memória, história e patrimônio do samba de Belo Horizonte, que instigou o coletivo de sambistas a aprofundar os estudos sobre a história do samba e de sua importância para a vida cultural da capital mineira. A partir daí, foram feitos levantamentos bibliográficos, por meio de acesso a acervos públicos e privados, entrevistas e reuniões com parceiros do projeto e comunidades ligadas ao samba, além de se basear no mapeamento da capital, encontrando os pontos de encontro, diálogo e tradição que mantêm vivo o universo do samba belo-horizontino.
O dossiê contextualiza e justifica o pedido do registro de patrimônio cultural por meio da reconstrução das trajetórias históricas da linguagem musical em conexão com a ancestralidade afro-brasileira, além de propor um plano de ações de salvaguarda relativas aos bens culturais analisados no processo. O inventário, por sua vez, sistematiza as informações sobre diferentes movimentos do samba na cidade, como escolas de samba, blocos de rua e blocos caricatos, espaços e rodas de samba. No resgate das origens desses movimentos, busca-se conexões com outras manifestações da cultura negra, reunindo registros fotográficos e relatos orais de mestres detentores do saber da cultura ancestral de Belo Horizonte.
Esse reconhecimento veio em dezembro de 2024, quando a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte oficializou o samba como patrimônio cultural imaterial da capital mineira. A ação é fundamental para a valorização dessa tradição musical enquanto expressão identitária e celebra a história, a tradição e a herança afro-brasileira para o povo mineiro.
Ferramenta educacional
Bruno Viveiros, coordenador geral e de pesquisa do projeto Horizontes do samba, destaca a importância da discussão sobre a herança africana do samba para a história da cidade: “Nosso intuito é pensar coletivamente quais os procedimentos de apropriação, interpretação e reelaboração desses conteúdos pela sociedade, principalmente a comunidade negra formada pelas mestras e mestres do samba e suas futuras gerações, que também se encontram em situação de vulnerabilidade”.
Para o pesquisador, que é doutor em História pela UFMG e integrou por vários anos o Projeto República, essa discussão é necessária para a construção da cidadania em direitos humanos. Ele fala em uma cidadania feita “a partir de novas formas de narrar a história, de compreender o protagonismo das populações afro-diaspóricas e de seus descendentes em nosso país, de conhecer as batalhas pela liberdade, pela autonomia e pela democracia no Brasil”.
Entre as ações do projeto, também estão produções de videoaulas, podcasts e um documentário que retratam as etapas da pesquisa histórica. Todos os resultados podem ser encontrados no site do projeto. O intuito é ampliar a divulgação para o público geral, além de levar os materiais para exibição em escolas da rede pública municipal e estadual.
(Hellen Cordeiro, da Agência de Notícias UFMG)