ALMG: Pacientes com hanseníase denunciam abandono da Casa de Saúde Santa Isabel

ALMG: Pacientes com hanseníase denunciam abandono da Casa de Saúde Santa Isabel

Antes encarcerados, usuários e seus familiares relatam em audiência pública dificuldades no acesso a serviços de saúde em unidade da rede Fhemig em Betim

A privação da liberdade para os pacientes com hanseníase parece ter sido substituída pelo descaso para quem ainda depende dos serviços prestados pela Casa de Saúde Santa Isabel, unidade hospitalar vinculada à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

Essa é a conclusão dos relatos feitos na tarde desta quinta-feira (3/8/23) em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada no Centro de Memória Luiz Veganim, na Região de Citrolândia, em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), atendendo a requerimento da presidenta do colegiado, deputada Andréia de Jesus (PT).

Além do suposto desmantelamento da infraestrutura e de serviços, foram denunciados carência de profissionais de saúde especializados, a não priorização de pacientes com hanseníase e o descaso com a assistência social tanto de pacientes quanto de seus familiares, muitos destes impedidos por décadas de conviverem em família.

Na avaliação da deputada Andréia de Jesus, tudo isso parte de uma estratégia da atual administração estadual de sucatear a unidade e assim facilitar a terceirização da sua gestão para as chamadas organizações sociais (OS), intenção segundo ela já amplamente anunciada pelo governo estadual.

O auditório do Centro de Memória ficou lotado com pacientes, familiares e lideranças comunitárias ligadas aos hansenianos e muitos cartazes contra esses supostos planos do Executivo foram exibidos. Nessa linha, a parlamentar lembrou a trajetória de preconceito e isolamento dos hansenianos e seus familiares, o que segundo ela deixou o Estado com uma “dívida eterna” com eles.

Andréia de Jesus anunciou que vai, por meio de vários requerimentos, cobrar explicações urgentes do Executivo sobre o suposto sucateamento da Casa de Saúde Santa Isabel e, se necessário, acionar o Ministério Público, por meio da Comissão de Direitos Humanos, para que a demanda seja judicializada.

“Romper com o ciclo de preconceito foi fundamental, mas ainda precisamos de serviços público que funcionem, sobretudo os relacionados à saúde. Temos pessoas e monumentos que contam essa história triste, e o Estado precisa cuidar dessas pessoas enquanto elas viverem, não transferir a responsabilidade para a iniciativa privada.”
 Andréia de Jesus
Dep. Andréia de Jesus

A administração da Casa de Saúde Santa Isabel é, desde 1978, de responsabilidade da Fhemig. Mas a história da antiga Colônia Santa Isabel remonta a 1931, quando o espaço foi inaugurado como um leprosário, com muros que confinavam à força os pacientes diagnosticados com hanseníase para, equivocadamente, conter o avanço da doença.

Foram muitos anos entre a descoberta do tratamento da doença e o abandono da política de isolamento, o que em Betim aconteceu somente em 1980.

Mas pacientes que viveram por décadas ali e foram institucionalizados permaneceram e ainda hoje são assistidos pelo Estado no local, chamado atualmente de casa de saúde. Instituições com trajetória e problemas semelhantes também existem em Ubá (Zona da Mata), Bambuí (Centro-Oeste) e Três Corações (Sul de Minas).

Em todos eles, da mesma forma que em Betim, conforme foi relatado na audiência, a infraestrutura de saúde e o que garantia a mínima qualidade de vida dos isolados, como atendimento odontológico, sapataria ortopédica e até um cinema, foi sendo desmantelado ao longo do tempo, apesar das necessidades bastante específicas desse público ainda persistirem.

Pacientes da unidade, vinculada à Fhemig, relataram possíveis violações de direitos Foto: Guilherme Dardanhan

Fonte: Pacientes com hanseníase denunciam abandono da Casa de Saúde Santa Isabel – Assembleia Legislativa de Minas Gerais (almg.gov.br)