Cannes: APAN lança durante o Festival campanha pelo cinema negro e políticas afirmativas

Cannes: APAN lança durante o Festival campanha pelo cinema negro e políticas afirmativas

Com participação de 21 profissionais associades, entidade consolida protagonismo internacional e destaca urgência da ampliação nas políticas afirmativas no setor

Pela primeira vez, a presença negra brasileira no Festival de Cannes foi marcada por uma ação coletiva articulada. A APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro) levou ao maior palco do cinema mundial a campanha “Cinema Negro, é Cinema Brasileiro”, iniciativa inédita que reafirma o compromisso da entidade com a Reparação Histórica e com a defesa da ampliação das políticas públicas voltadas à diversidade no audiovisual.

Com 21 associades presentes em diferentes atividades da programação — incluindo exibições, painéis, rodadas de negócio e encontros internacionais — a ação da APAN ecoou um posicionamento político claro e urgente. Em um contexto global de avanço de discursos antidemocráticos e de ataque à diversidade, a entidade mobilizou suas redes e talentos para reafirmar que a pluralidade é o coração do cinema brasileiro.

A presença da APAN no festival é reflexo direto da atuação da entidade como uma das principais articuladoras do audiovisual negro no Brasil e na América Latina. A ação deste ano em Cannes é um chamado à indústria, festivais e políticas públicas, dando um recado importante ao público e reafirmando a importância da diversidade que faz do Brasil um país de referência na defesa dos valores democráticos, plurais e antirracistas”, afirmou Keyti Souza, diretora administrativa da APAN, durante mesa oficial no dia 18 de maio.

A campanha “Cinema Negro é Cinema Brasileiro” se materializou com a exibição de um vídeo manifesto que abre falas de associados no festival. Com linguagem potente e coletiva, reunindo imagens de filmes negros e indígenas, o vídeo apresenta a Reparação Histórica como um compromisso urgente do setor e denuncia os apagamentos que ainda marcam o audiovisual no Brasil. A ação está conectada à pauta da Reparação Histórica discutida em diversas instâncias nacionais e internacionais, como a ONU, OEA e o Fórum Permanente da População Afrodescendente.

Um dos focos da campanha é a ampliação das Ações Afirmativas, com a defesa do conceito de “Empresas Vocacionadas para a Reparação Histórica” compreendendo que, para haver Justiça Social, é necessário também um pensamento sobre Justiça Econômica. Essa tipologia de empresa refere-se às que são geridas por 51% ou mais de pessoas negras e/ou indígenas e que se dedicam à produção de conteúdos audiovisuais vocacionados para desconstrução de estereótipos pejorativos que atingem as experiências de ser uma pessoa negra e/ou indígena na sociedade brasileira. O conceito dá cor ao CNPJ e possibilita que as Políticas Afirmativas sejam também direcionadas para agentes econômicos de alto impacto social.

Durante o Festival de Cannes, diversos associados da APAN apresentaram projetos e obras que dialogam diretamente com o compromisso político da entidade e também marcaram presença em atividades de formação, exibição, rodadas e articulação internacional e compartilharam também projetos futuros que serão lançados ao longo do ano, sinalizando a potência do audiovisual negro brasileiro na cena global.

Marché du Film

  • “Anna en Passant”, roteiro e direção de Fernanda Salgado–MG. Longa-metragem de animação em fase de pós-produção. Produtora:
  • “Tempestade Ninja”, roteiro e direção de Higor Gomes. Produtora: Ponta de Anzol. Longa-metragem em fase de desenvolvimento.
  • “Criadas”, roteiro e direção Carol Rodrigues (SP) Produtoras Gato do Parque e Volta Filmes. Parceria e co-produção: Telecine e Canal Brasil.
  • “Não estamos sonhando”, de Ulisses Artur (AL). Produtora: Céu Vermelho Fogo Filmes.
  • Distribuidora Fistaile, de Talita Arruda (BA).

CannesDocs

  • “El vol de la Cigonya”, Matheus Mello, uma co-produção Catalana-Catariana;
  • “Eu Ouvi o Chamado: Retorno dos Mantos Tupinambá”, direção de Myzra Muniz e Robson Dias em parceria com Célia Tupinambá

AfroCannes

“Meu Pai e a Praia”, de Emerson Dindo

Estiveram presentes nos painéis: Viviane Ferreira (BA), Keyti Souza (BA), Bethânia Maia (DF), Chica Andrade e Juliana Vicente (SP), da Preta Portê Filmes, que participou com os filmes “Cores de Maio” e “Construindo a Rainha”, ambos com direção sua e produção executiva de Diana Costa. Juliana também dividiu mesa com Keyti em uma discussão sobre coprodução com a África do Sul e foi destaque como “Spotlight Producer” no Producers Network.

A campanha “Cinema Negro é Cinema Brasileiro” parte de um princípio inegociável: não existe cinema brasileiro sem o protagonismo de seus povos originários e da população negra.

“Na trajetória do Brasil, os povos indígena e negro tiveram suas culturas, crenças e saberes apagados e desacreditados. ‘Isso é coisa de preto’, diziam. ‘Isso é coisa de indígena’, falavam. Como se estar associado às nossas identidades tornasse tudo menor, menos digno. […], Mas com luta e resistência, os tempos mudaram.”

No manifesto, a APAN afirma que ainda tentam silenciar essas vozes no audiovisual: “Dizem por aí que o cinema que fazemos é ‘filme de indígena’, ‘filme de preto’. Mas o que seria do Brasil sem as histórias, os rituais, os ritmos e os saberes dos nossos povos?”. E a resposta é clara: “Cinema Negro é Cinema Brasileiro

A campanha, coordenada pela APAN, teve narração da atriz Jamile Kasumbá e contou com o apoio de diversas Empresas Vocacionadas para a Reparação Histórica e um conjunto de realizadores negros e indígenas, além da Tambellini Filmes e Ello Estúdios, que cederam imagens para a composição audiovisual do vídeo exibido em Cannes. Entre os parceiros e realizadores envolvidos estão: Casa de Criação Cinema, Filmes de Plástico, Lata Filmes, Odun Filmes, Ori Imagem, Oxalá Produções, Pretaporte Filmes, Rosza Filmes, Tem Dendê, além de coletivos como Dajekapapeypi. Também entraram, em parceria, as cineastas da Katahirine – Rede Audiovisual de Mulheres Indígnas, como Michele Kaiowá, Sophia Pinheiro, Olinda Yawar Wanderley, Graci Guarani e Bárbara Matias Kariri.

A campanha “Cinema Negro é Cinema Brasileiro” segue sendo difundida após Cannes, convocando o setor e a sociedade a se engajarem pela valorização das narrativas negras e indígenas. O vídeo completo está disponível em: Campanha: “Cinema Negro, é Cinema Brasileiro”

Sobre a Associação de Profissionais do Audiovisual Negro
A Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) é uma organização brasileira que atua no fortalecimento de profissionais negros no setor audiovisual. Fundada em 2016, a entidade promove formações, laboratórios, festivais, redes de apoio e ações de incidência política com foco na equidade racial, democratização do acesso aos meios de produção cultural e valorização das narrativas negras. A APAN é hoje uma das principais referências em audiovisual negro no Brasil e na América Latina.