CNI aponta primeira queda no emprego industrial em 18 meses

Recuo no faturamento real em abril acende alerta sobre ritmo da atividade industrial no país
Hugo Ferreira, diretor da MPA Automação e Robótica e especialista em desenvolvimento econômico e tecnológico | Foto: Felipe Borges.
O emprego na indústria brasileira recuou 0,2% em abril, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Essa é a primeira queda registrada no setor após 18 meses consecutivos de crescimento. O recuo acompanha a retração de 0,8% no faturamento real das empresas industriais no mesmo período, indicando um possível desaquecimento no ritmo de produção e contratações.
Os dados integram a pesquisa Indicadores Industriais, divulgada nesta terça-feira (10), e mostram que o setor industrial começa a sentir os efeitos de uma combinação de fatores como alta de custos, incertezas econômicas e desaceleração da demanda interna. A utilização da capacidade instalada também caiu, passando de 79,8% em março para 78,8% em abril.
Para o diretor da MPA Automação e Robótica e especialista em desenvolvimento econômico e tecnológico, Hugo Ferreira, o momento requer atenção, mas também planejamento estratégico. “A queda no emprego industrial em abril é um sinal de alerta, mas não necessariamente um indicativo de crise. O setor vem se modernizando e muitas empresas estão ajustando seus quadros para incorporar novas tecnologias e melhorar a produtividade”, analisa.
Segundo ele, parte das movimentações do mercado também refletem uma transição natural em função da adoção crescente da automação e da inteligência artificial nas linhas de produção. “A indústria brasileira está em meio a uma transformação digital. Isso muda a dinâmica da contratação: diminui-se a necessidade de mão de obra operacional repetitiva e aumenta-se a busca por profissionais qualificados, com perfil técnico e adaptável às novas demandas tecnológicas”, afirma Ferreira.
Mesmo diante dos números negativos, a massa salarial real e o rendimento médio do trabalhador industrial registraram leve alta de 0,2% em abril, o que pode indicar estabilidade no curto prazo. No entanto, Hugo Ferreira alerta para os próximos meses: “Se os investimentos em inovação e qualificação profissional não forem acompanhados por políticas de incentivo à produção e ao consumo, corremos o risco de ver uma estagnação mais duradoura no setor.”
A CNI também reforça que o momento pede cautela e acompanhamento constante dos indicadores, já que o cenário internacional e as medidas econômicas internas podem influenciar diretamente a recuperação ou o aprofundamento da queda na atividade industrial.