Como empresas devem lidar com o gerenciamento de crise em casos de desastre climático

Como empresas devem lidar com o gerenciamento de crise em casos de desastre climático

Temos vivenciado um dos maiores desastres climáticos no Rio Grande Sul, com mais de quatrocentas cidades atingidas, afetando 2,1 milhões de pessoas de acordo com o boletim da Defesa Civil

O governo anunciou ações voltadas para a facilitação de acesso a crédito para as famílias, empresas e pequenos agricultores. É previsto aporte do governo de R$ 30 bilhões em crédito às microempresas e empresas de pequeno porte por meio do Programa Nacional de Apoio a Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).

Dentre os pontos de atenção acerca do desastre climático no RS são os efeitos das chuvas sobre as telecomunicações e o futuro de curto prazo quanto à conectividade já que provedores de banda larga perderam tudo e podem fechar as portas sem um plano de reconstrução apoiado pelas autoridades.

Com ampla experiência no cenário corporativo, atuando como conselheiro consultivo e consultor à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, Carlos Moreira aborda sobre a complexidade do gerenciamento de crise em casos de desastre climático.

Gerenciamento de crise em casos críticos decorrentes de fatores climáticos

As situações críticas quando se trata do gerenciamento de desastres possuem algumas classificações: alto risco, dinâmicas, complexas e confusas:

  • Alto risco – Os perigos associados a situações críticas são significativos, havendo sempre uma alta probabilidade de resultados indesejados. Esses riscos podem resultar em lesões, fatalidades, pessoas desabrigadas, danos materiais e ambientais;
  • Dinâmicas – As circunstâncias podem mudar rapidamente, por vezes de forma inesperada, devido à interação complexa de diversos elementos, como clima, temperatura, vento, luz, comportamento humano, entre outros;
  • Complexas – As situações críticas são intrincadas devido à realização de ações complexas, como resgates técnicos, controle de vazamentos de substâncias perigosas, evacuação de comunidades, triagem e assistência a várias vítimas, e gerenciamento de crises policiais. Além disso, sua complexidade é aumentada pela necessidade de envolvimento de diversas organizações, cada uma com responsabilidades e jurisdições distintas;
  • Confusas – As situações críticas são caóticas devido à escassez de informações, o que fragmenta o cenário. Isso resulta em falhas na comunicação entre os envolvidos, sobrecarga no comando da operação e dificuldade na definição de prioridades e objetivos comuns. Além disso, os recursos disponíveis não são sempre compartilhados de forma eficaz.

Um dos principais questionamentos por parte das autoridades e população brasileira está em como será a organização no pós-desastre para a reconstrução do estado gaúcho e quais serão as medidas para evitar que o problema ocorra novamente.

Discutir o gerenciamento de crise em caso de desastre climático envolve, como esclarece a jornalista Patrícia Brito Teixeira, considerar as consequências multidimensionais já que a crise climática afeta diversos fatores na sociedade como saúde, segurança alimentar, abastecimento de água, economia e diversidade.

Como a governança atua para o gerenciamento de crise eficaz?

A gestão de crise envolve:

  • Governança;
  • Identificação dos Riscos;
  • Análise e Avaliação;
  • Medidas de Prevenção e Mitigação dos Riscos Identificados;
  • Reconhecimento das Ameaças;
  • Estabelecimento de Planos de Monitoramento e Resposta para cada cenário potencial.

Um dos principais meios para a prevenção e gestão de riscos está na adoção de tecnologias como é o caso da Inteligência Artificial (AI), Internet das Coisas (IoT) e Big Data e inovações em áreas como robótica e drones que têm impactado inúmeros setores da sociedade, o que inclui a prevenção e o gerenciamento de riscos e desastres.

O primeiro uso de drones foi registrado em 2005 nos Estados Unidos, após o furacão Katrina. E desde então drones têm sido amplamente utilizados para a estimativa de dados pós-desastre em diversos países. Sua disseminação se destacou especialmente em 2011 no leste do Japão, seguindo o terremoto, o tsunami e o incidente nuclear.

A governança tem papel fundamental no gerenciamento de riscos de desastres nos níveis nacional, regional e global e tem grande valor para uma gestão eficaz e eficiente dos riscos de desastres.

Para alcançar esse objetivo, é essencial possuir uma visão clara, planos bem definidos, habilidades adequadas, orientação e coordenação entre diferentes setores, além da participação ativa das partes envolvidas.

Lidar com o gerenciamento de crise em caso de desastre climático parte do envolvimento de diversas partes interessadas, seja do âmbito governamental ou não.  Esse comportamento multidisciplinar leva a uma visão de governança sistêmica da gestão de riscos de desastres, o que envolve diversos agentes públicos como Defesas Civis, sociedade civil organizada, universidades, entre outros.

O gerenciamento de crise e de riscos precisa ser realizado com base no compartilhamento de diversos conhecimentos para uma ampla rede de ação focada na solução dos problemas e constante desenvolvimento.

Principais passos para a gestão de crise eficaz

Para a gestão de crise eficaz é fundamental o desenvolvimento e implementação de um plano de gerenciamento de crise que possa contornar a situação da melhor maneira possível.

O plano de gerenciamento de crise eficiente é aquele que consegue identificar as pessoas responsáveis e suas funções específicas, visando minimizar os danos e recuperar as operações comerciais o mais breve possível.

Dentre os passos para a elaboração de um plano de gerenciamento de crise eficaz, destacam-se:

Identificação da equipe que fará parte da gestão de crise

Inicialmente é preciso saber quem serão as pessoas envolvidas no gerenciamento de crise, além disso, é indispensável que todos os envolvidos tenham fácil acesso ao plano e que estejam alinhados quanto às ações que precisarão ser desenvolvidas.

Avaliação dos riscos

Identificar a quais riscos a empresa está exposta é o segundo passo para um plano eficaz. No caso das empresas afetadas no Rio Grande Sul, por exemplo, o desastre climático já está acontecendo, sendo assim, é fundamental levantar todos os prejuízos e estimativas de longo prazo para a recuperação na pós-tragédia, o que em grande parte, conseguirá ser realizado quando as águas baixarem nas regiões afetadas.

Determinação dos impactos sobre a empresa

Quais os impactos que os riscos podem ou estão causando ao negócio? Cada situação/cenário envolve resultados específicos, por isso é fundamental que a análise seja realizada considerando cada contexto.

Planejamento de respostas

Uma vez que diferentes cenários são abordados, é preciso que a empresa desenvolva respostas para cada problema.

Desenvolvimento do plano

Quando os principais pontos foram levantados é o momento do desenvolvimento de cada um deles de maneira consistente. Todas as possibilidades e ações precisam ser tomadas para que os riscos e crises sejam contornados.

No caso das empresas localizadas no Rio Grande do Sul, a interação com as ações governamentais é essencial para que se saiba quais medidas poderão ser tomadas por ordem e controle.

Plano de gerenciamento de crise atualizado

Uma vez que o plano de risco está finalizado, é essencial revisá-lo frequentemente com novas soluções ou situações que possam aprimorar sua execução.

O bom plano de gerenciamento de crise precisa ter:

  • Análise de riscos;
  • Protocolo de ativação;
  • Resposta à crise;
  • Estratégia de comunicação externa;
  • Avaliação da crise.

Inúmeras empresas que passam por desastres climáticos como é o caso das empresas gaúchas geralmente não possuem um plano de gerenciamento de risco ou nunca acharam que seria de fato necessário.

Como mencionado, a governança corporativa sólida é imprescindível, inclusive, para nortear a empresa quanto às ações necessárias para o objetivo da sustentabilidade empresarial e perenidade.

Em uma situação delicada como essa vivenciada no sul do país, é vital que haja apoio especializado para a reestruturação do negócio no pós-desastre. Nada será como antes, mas isso não significa que não possa ser melhor, sustentável e fortalecido.

Carlos Moreira – Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.