Infância: tempo de descoberta, não de desempenho

Por Iara Mastine
Vivemos em uma sociedade marcada pela cultura da pressa, em que tudo precisa ter forma, função e resultado imediato. E esse ritmo acelerado invade, também, a infância.
As crianças aprendem aquilo que presenciam e vivenciam. Muitas vezes, a forma como nos comunicamos com elas gera estresse e a sensação de tempo acelerado. Exemplo disso é que, no momento da saída para a escola, os pais já alertam: “Só temos cinco minutos! Vamos nos atrasar, todo dia é essa dificuldade!”.
A fala indica impaciência em torno de uma rotina atribulada e deixa a situação ainda mais difícil. Portanto, o melhor seria estabelecer uma comunicação mais empática: “Crianças, ainda temos cinco minutos, vocês precisam de ajuda?”. São os mesmos cinco minutos, porém, alertados com leveza e respeito.
Espera-se que os pequenos aprendam o quanto antes, tenham maior agilidade e rendam mais. O brincar espontâneo é substituído por atividades estruturadas, a curiosidade cede lugar à performance, e o erro — parte fundamental da aprendizagem — se torna indesejado.
Mas a infância não é um ensaio para a vida adulta. Ela é vida em sua forma mais intensa, marcada pela descoberta, pela experimentação e pelo encantamento diante do mundo. É nesse tempo livre de pressões que a criança constrói quem ela é, desenvolve sua criatividade, regula as emoções e aprende sobre o outro.
Quando exigimos que tudo tenha uma função imediata, eliminamos o espaço da dúvida, da tentativa e do erro. E, sem erro, não há aprendizado significativo. Foi com esse olhar que escrevi “O Rabisco”, uma história que convida adultos e crianças a desacelerarem juntos.
A pressa em “ensinar” antes da hora compromete não apenas o desenvolvimento cognitivo, mas, também, o emocional. Crianças precisam de tempo para observar, repetir, perguntar e errar sem medo. A pausa, muitas vezes, ensina mais do que a correria. Elas devem sentir sua importância. Reconhecer que o tempo livre, muitas vezes visto como “tempo perdido”, é essencial.
É nesse intervalo que podem criar, reinventar e encontrar sentido nas experiências. Brincar sem roteiro, desenhar livremente é mais do que diversão: é uma forma profunda de conhecer o mundo e a si mesmas.
Além disso, o sentimento de pertencimento é vital nesse processo. Quando a atividade faz sentido para a criança e ela se sente respeitada e acolhida em seu ritmo, o engajamento surge naturalmente. E com ele, a autoconfiança. Saber que se é capaz, que se tem valor mesmo quando não se acerta de primeira, fortalece a autoestima e o desejo de aprender.
Criar, brincar, imaginar, explorar. Esses não são desvios do caminho, são o próprio caminho do desenvolvimento infantil. Precisamos resgatar o tempo da infância como momento de descoberta, e não de desempenho. Um tempo que respeita o ritmo, valoriza o processo e entende que crescer é, antes de tudo, viver com sentido.
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Iara Mastine é psicóloga infantojuvenil e autora do livro “O Rabisco” / Foto; Freepik