Pesquisa da UFMG aponta que 34% dos idosos em áreas urbanas apresentam sintomas depressivos
Nos últimos anos, dois fenômenos têm ocorrido paralelamente, em ritmo acelerado: a urbanização das cidades, com o crescimento de suas populações, e o envelhecimento populacional. Este cenário traz desafios complexos, já que as condições físicas e sociais das grandes cidades podem ser fatores fundamentais para o adoecimento e a ocorrência de sintomas depressivos na população de adultos mais velhos. Essas afirmações são embasadas pelos recentes estudos publicados pelo pesquisador Pablo Roccon, em tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, na qual analisou a percepção de idosos brasileiros residentes em áreas urbanas sobre suas vizinhanças e a associação com a ocorrência de sintomas depressivos.
O estudo apontou que idosos que relataram perceber desordem física na vizinhança ou a ausência de agradabilidade do bairro apresentaram prevalência de sintomas depressivos de 22% e 24%, respectivamente, em comparação com os demais. O mesmo ocorreu entre aqueles que perceberam presença de poluição sonora ou foram vítimas de furto, roubo ou invasão domiciliar. Entre estes, a prevalência de sintomas depressivos foi de 27% entre adultos mais velhos que relataram percepção de ruído no ambiente e de 31% entre aqueles que foram vítimas de violência.
Ocupação dos espaços urbanos
A insegurança percebida na vizinhança teve impacto especialmente entre as mulheres, o que se refletiu em uma prevalência de sintomas depressivos de 12%. O pesquisador também analisou a coesão social, ou seja, o senso de comunidade e de confiança entre os vizinhos. Idosos que relataram não perceberem a presença de coesão social na vizinhança em que moram apresentaram prevalência de sintomas depressivos de 26%.
Segundo o autor, os estudos que analisam o impacto dos ambientes urbanos na saúde mental da população mais velha têm sido realizados majoritariamente em países de alta renda, o que aponta para a necessidade de mais evidências provenientes de países de média e baixa renda. “A gente precisa olhar para a América Latina e produzir evidências a partir do nosso horizonte. Vivemos em um país de muitas desigualdades. A nossa história de ocupação dos espaços urbanos é muito destrutiva, com um impacto gigantesco na vida, principalmente, da população idosa”, afirmou.
Roccon ressalta que a vizinhança é fundamental na vida do idoso, uma vez que, em geral, ele tende a vivê-la com maior intensidade e a estar nela durante a maior parte do tempo, seja por problemas de saúde, limitações físicas ou financeiras. Portanto, o pesquisador destaca a importância de políticas e ações voltadas ao suporte socioassistencial como as políticas de distribuição de renda, bem como obras de requalificação urbana voltadas à construção, manutenção ou ampliação de calçadas e faixas de pedestres, da iluminação pública, de parques com ampliação das áreas verdes e espaços para encontro e lazer, formas de intervenções urbanas que são capazes de promover o envelhecimento ativo e saudável.
Leia a matéria completa no site da Faculdade de Medicina da UFMG.
Foto: CCS Faculdade de Medicina

