Retinoblastoma é o câncer ocular mais comum na infância

Sinais como reflexo branco em fotos e estrabismo podem indicar o retinoblastoma; detecção precoce eleva as chances de cura da doença
O retinoblastoma, tumor ocular mais comum na infância, afeta principalmente crianças com menos de 5 anos e pode comprometer não apenas a visão, mas também a vida, se não diagnosticado precocemente. No Brasil, surgem em média 400 novos casos por ano, mas cerca de metade dos diagnósticos ainda ocorre tardiamente, reduzindo drasticamente as chances de cura. Se detectado em estágio inicial, o retinoblastoma é curável e tem grandes chances de preservação da visão, afirma o Ministério da Saúde.
O primeiro sinal que os pais costumam perceber é a leucocoria, um reflexo branco na pupila que substitui o brilho vermelho normal em fotos tiradas com flash, também conhecido como “olho de gato”. Outro alerta importante é o estrabismo persistente. “A leucocoria é o sinal de alerta mais grave porque indica que a luz não está atingindo a retina normalmente. Diante desse reflexo esbranquiçado, a avaliação precoce pode salvar a visão e a vida da criança”, afirma o oftalmologista cooperado da Unimed-BH, Luiz Carlos Molinari. Ele ressalta ainda que outros sintomas podem surgir, como dor ocular, vermelhidão, aumento do globo ocular, heterocromia (diferença de cor entre os olhos) e sensibilidade à luz.
Em 2021, o jornalista Tiago Leifert trouxe visibilidade ao tema ao divulgar o diagnóstico do filho, descoberto a partir de sinais clássicos da doença. O caso reforçou a importância da atenção dos pais e de consultas de acompanhamento, mostrando como sinais aparentemente simples podem fazer diferença no desfecho do tratamento.
Além da observação no dia a dia, consultas de rotina com pediatra e oftalmologista são essenciais. O exame de fundo de olho, o teste do reflexo vermelho — conhecido como “teste do olhinho” — e, quando necessário, exames de imagem, são os principais instrumentos para confirmar o diagnóstico. “O pediatra é geralmente o primeiro profissional a realizar o teste do olhinho. Ele deve ser feito ainda na maternidade e repetido durante a infância. Em caso de alteração, o encaminhamento imediato ao especialista é fundamental”, explica a pediatra cooperada da Unimed-BH, Marcela Damásio.
Diagnóstico precoce, mais chances de preservação da visão
O impacto da detecção em estágio inicial é decisivo, pois permite iniciar tratamentos menos agressivos, como crioterapia, laserterapia ou quimioterapia intra-arterial, evitando, em muitos casos, a remoção do olho (enucleação). “Quando identificamos a doença cedo, temos muito mais chances de preservar o olho e a visão da criança. Além disso, o prognóstico de cura é significativamente melhor”, destaca Molinari.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, o tratamento do retinoblastoma apresentou avanços enormes nas últimas décadas. As taxas de cura são superiores a 95% com tratamento adequado. O prognóstico depende da intervenção precoce, do tamanho e disseminação do tumor primário, bem como da presença e localização de possíveis lesões metastáticas.
Nos últimos anos, novas técnicas vêm ampliando as possibilidades de tratamento. A quimioterapia intravítrea e periocular reduz os efeitos colaterais da terapia sistêmica, enquanto a análise genética tumoral e a chamada biópsia líquida ajudam no diagnóstico e monitoramento de forma menos invasiva. “Até mesmo ferramentas de inteligência artificial estão sendo testadas para melhorar a precisão do acompanhamento clínico”, explica o oftalmologista.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), todos os bebês devem passar por avaliação oftalmológica completa entre o sexto mês e o primeiro ano de vida, mesmo sem sintomas aparentes. O acompanhamento contínuo, conhecido como puericultura, é também decisivo para detectar alterações sutis no desenvolvimento da criança. “Durante as consultas, o pediatra consegue identificar sinais precoces de várias doenças e encaminhar rapidamente ao especialista, evitando tratamentos invasivos e melhorando a qualidade de vida no longo prazo”, reforça Marcela Damásio.
Para os pais, o olhar atento no dia a dia é igualmente importante. Aproximação excessiva da televisão, quedas frequentes ou dificuldade em acompanhar objetos podem indicar problemas visuais. Fotografias também se tornam uma ferramenta prática e, em caso de alteração no reflexo dos olhos ou assimetria, é recomendável marcar uma consulta com o oftalmologista o mais rápido possível.
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