Saúde mental nas lideranças: impactos que não podem ser ignorados

*Por Nayara Teixeira
Nos últimos anos, falar sobre saúde mental nas organizações deixou de ser um tabu e passou a ser uma necessidade urgente. No entanto, há um grupo que, muitas vezes, permanece invisível nessa discussão: as lideranças. Gerentes, coordenadores, supervisores e diretores também adoecem, e os impactos desse adoecimento vão muito além do próprio indivíduo. Eles se refletem diretamente na cultura, na produtividade e nos resultados da organização.
Dados recentes indicam que o Brasil enfrenta uma crise significativa na saúde mental dos profissionais. Segundo uma pesquisa da Gallup, 25% dos profissionais brasileiros relatam sentir tristeza diariamente, e 46% afirmam experimentar estresse diário. Além disso, um estudo da The School of Life, em parceria com a Robert Half, revelou que 18,2% dos líderes no Brasil fazem uso de medicação psicofarmacológica para lidar com sintomas de ansiedade, melhorar o sono ou aumentar a produtividade.
Quando uma liderança não está bem emocionalmente, os efeitos são sistêmicos. Ambientes de trabalho tornam-se mais tensos, com menos espaço para diálogos abertos e seguros, o que pode levar a um aumento de conflitos, insegurança psicológica e deterioração do clima organizacional. Nesse caso, a produtividade tende a cair, já que o líder tem papel central na gestão de demandas, na priorização e na organização do trabalho. Decisões podem se tornar mais impulsivas ou conservadoras, guiadas pelo medo, exaustão ou esgotamento. Além disso, há um desgaste nas relações interpessoais, impactando tanto seus pares quanto subordinados.
Cuidar das lideranças é também cuidar dos trabalhadores e da empresa como um todo. Quando gestores estão em equilíbrio, eles são capazes de construir relações mais saudáveis com suas equipes, promover ambientes de trabalho seguros, inclusivos e colaborativos, reduzir riscos psicossociais como burnout, assédio, estresse e adoecimento emocional, e impactar positivamente indicadores como turnover, absenteísmo e clima organizacional.
As empresas que entendem isso têm investido não apenas no desenvolvimento técnico dos gestores, mas também no emocional. Isso inclui oferecer espaços de acolhimento, apoio psicológico, treinamentos sobre saúde mental no trabalho e acompanhamento dos fatores psicossociais que impactam o dia a dia dessas pessoas.
Existe ainda uma falsa crença de que quem ocupa posições de liderança precisa ser imune ao cansaço, às emoções e às próprias fragilidades. Mas não é sobre ser forte o tempo todo, é sobre ter recursos, suporte e autonomia para lidar com as próprias demandas emocionais, reconhecer limites e pedir ajuda quando necessário.
As empresas que não olham para isso estão alimentando ciclos de adoecimento organizacional, já aquelas que priorizam o cuidado integral das lideranças estão mais preparadas para enfrentar crises, inovar, reter talentos e construir ambientes de trabalho verdadeiramente saudáveis e sustentáveis.
Por isso, o convite que deixo aqui é: que possamos olhar com mais seriedade e intencionalidade para a saúde mental de quem lidera. Cuidar da liderança não é um favor, é uma estratégia de sustentabilidade para qualquer negócio.