Senadoras cobram Ministério da Saúde sobre atraso na implementação do Programa Nacional de Triagem Neonatal

Senadoras cobram Ministério da Saúde sobre atraso na implementação do Programa Nacional de Triagem Neonatal

Mara Gabrilli e Damares Alves visitam o Instituto Jô Clemente, referência na aplicação do Teste do Pezinho, e cobram do MS a regulamentação da Lei que determina a ampliação do exame em todo Brasil

Nesta segunda-feira (2/10), a senadora Mara Gabrilli, presidente da Subcomissão de Direitos das Pessoas com Doenças Raras do Senado, junto à Damares Alves, vice-presidente do colegiado, visitaram o Instituto Jô Clemente (IJC), centro de referência quando se trata do tema. O objetivo da diligência foi entender os gargalos para tirar do papel a Lei 14.154. Aprovada em 2021, a legislação determina a ampliação do teste para rastrear cerca de 50 doenças, além das sete disponíveis hoje.

A senadora Mara Gabrilli afirmou que há grandes desafios à frente e que a Subcomissão presidida por ela vem atuando de forma contundente para resolver os entraves que envolvem a questão. “Além da descontinuidade de secretários da Saúde, em estados e municípios, ainda há carência de centros de referências, que hoje estão concentrados no Sul e Sudeste. Outra questão é a logística para a entrega dos exames. Nesse sentido, estamos trabalhando com os Correios para termos um fluxo diferenciado na entrega desse material, que deve acontecer de forma correta e célere”, afirmou.

A visita ao IJC foi realizada com Daniela Mendes, superintendente geral do Instituto, que enfatizou a importância de existir uma coordenação estadual e municipal para colocar de pé a regulamentação da Lei. Ela também lembrou da necessidade de realizar um trabalho de capacitação da rede de saúde para diminuir o percentual de falhas de testagem. “A triagem neonatal, como eu sempre digo, é uma grande corrida contra o tempo. Quanto mais você demora para chegar no resultado, mais você pode estar comprometendo o desfecho clínico da criança”, alertou a superintendente.

O Instituto Jô Clemente é responsável por 67% de todos os Testes do Pezinho realizados no estado de São Paulo. Já na capital paulista, o Instituto cobre 100% dos exames deste tipo.

A senadora Damares afirmou que a tecnologia do Instituto Jô Clemente é algo impressionante. “É uma infraestrutura que encanta, mas é preciso lembrar que sem o material humano nada disso funciona. Por isso a importância da capacitação de todos os técnicos da rede de saúde. E nossa Subcomissão vai entregar um relatório para que o Ministério da Saúde entenda esse panorama. Saímos daqui com a sensação de missão cumprida e seguiremos acompanhando para que essa política funcione de forma eficiente”, disse.

Médico e representante do Ministério da Saúde em São Paulo, José dos Santos, reforçou a importância da ministra Nísia Trindade acompanhar as discussões e coordenar ações para regulamentar a Lei e inclusive conhecer todo o processo de logística que engloba os desafios da triagem neonatal e seus entraves.

Neste sentido, o governo Lula já admitiu que não há um prazo para o cumprimento de todas as etapas da legislação que ampliou o Teste do Pezinho. Pela regra, o Ministério da Saúde deveria implantar equipamentos para identificar 53 doenças por meio deste exame no SUS em todo território nacional de forma obrigatória e gratuita.

A visita ao IJC faz parte de um conjunto de ações da Subcomissão de Direitos das Pessoas com Doenças Raras do Senado. Na semana passada, o colegiado já havia realizado uma audiência pública onde foram levantadas questões sobre logística dos exames, dificuldade de exames comprobatórios, demora no diagnóstico e falta de recursos devido à heterogeneidade entre os Estados brasileiros.

Vale lembrar que a Lei 14.154 fala apenas de Teste do Pezinho, contudo, o Programa Nacional de Triagem Neonatal tem mais exames importantes e que precisam ser ofertados pelo SUS. Nesse sentido, a Subcomissão fará requerimento de informação para saber como está o andamento de todos os exames que envolvem a triagem neonatal, como o Teste do Pezinho, a Triagem Auditiva, a Triagem Ocular e também a Oximetria de Pulso.

Para Gabrilli, esses exames salvam vidas e também a sustentabilidade do SUS. “Falamos de exames que podem identificar doenças que causam deficiências severas e irreversíveis. Sem contar que além de saúde para as crianças, falamos de economia aos cofres públicos. Por isso a urgência do Ministério também realizar campanhas de conscientização com foco nas mães, que precisam saber da importância desse exame. Precisamos vencer a barreira da informação, que tende a atingir a população mais vulnerável do país”.

Sobre o IJC
O Instituto Jô Clemente é uma Organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos, que atua há 62 anos. Pioneiro no Teste do Pezinho no Brasil e credenciado pelo Ministério da Saúde como Serviço de Referência em Triagem Neonatal, o Laboratório do Instituto Jô Clemente (IJC) é o maior do Brasil em exames realizados.

O Teste do Pezinho é um exame de triagem neonatal que possibilita o diagnóstico de doenças genéticas, metabólicas, imunológicas e infecciosas, por meio da análise de gotas de sangue colhidas do calcanhar do bebê e absorvidas por um papel filtro. Essas doenças, se não tratadas adequadamente e em tempo oportuno, podem causar prejuízos irreversíveis para a vida da criança, podendo levar ao desenvolvimento de deficiências graves e, nos casos mais graves, ao óbito.