As alegrias da maternidade
					A maternidade é o sonho de muitas mulheres. Mas como saber se é realmente um sonho ou apenas uma resposta ao que esperam de nós? Desde crianças, nós, mulheres, vamos sendo “moldadas” na arte do cuidar. Nossos primeiros brinquedos são casinhas, mini kits de limpeza com vassourinhas e rodinhos, conjuntos de cozinha, ferrinhos de passar roupa e, claro, bonecas. Ganhamos bebês de todas as formas: com fraldinha, com mamadeira, com febre e com outras demandas que devem ser resolvidas por nós.
Hoje em dia, as pessoas olham com menos espanto para as mulheres que dizem não querer ser mães, mas quem é da minha geração (40+) presenciou como dizer isso era um tabu. Não que hoje ainda não seja, mas há mais compreensão nesse campo (ou mais contenção nas opiniões). De qualquer forma, enxergar o que é imposto e perceber que podemos não ser o que esperam de nós já é um passo para começar o caminho em busca do nosso real desejo.
O mais curioso é que a mesma sociedade que espera que tenhamos filhos nos desampara exatamente nesse momento. Ficamos grávidas — e agora? Vamos conseguir um emprego? Será possível continuar trabalhando? E se for uma gravidez de risco? E se nosso trabalho for informal e dependermos do dia trabalhado?
A criança nasceu. E agora? Se voltamos a trabalhar, estamos deixando o cuidado dos nossos filhos a terceiros; se não voltamos, estamos dando um mau exemplo. Isso sem falar que, muitas vezes, voltar a trabalhar não é uma escolha, é sobrevivência. Se cuidamos do nosso corpo, estamos mais preocupadas conosco do que com o filho; se não cuidamos, somos desleixadas. Se damos colo, estamos criando uma geração fraca; se não damos, estamos criando uma geração traumatizada — e assim por diante. A sensação é de estar sozinha em um barco à deriva. Temos que lidar com a nossa culpa, com os nossos medos, com nossas inseguranças e ainda com os olhares e julgamentos da mesma sociedade que esperou isso da gente antes mesmo de nos entendermos como pessoas.
Mas como é esse maternar em outras culturas? A indicação desta semana entra justamente para responder a essa pergunta. No livro As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta, conhecemos toda a história de Nnu Ego. Acompanhamos como eram seus pais, como foi sua chegada ao mundo, sua infância e sua vida adulta. Como o livro se passa na Nigéria, presenciamos como o maternar é visto dentro da tribo da qual ela faz parte e das outras tribos ao seu redor. Vamos percorrendo a história dela e percebendo como a cultura influencia nosso jeito de pensar, agir e nos relacionar e, mesmo com tantas diferenças, como ainda nos encontramos nesse mar chamado maternar.
As Alegrias da Maternidade é aquele tipo de livro que está longe de ser um conto de fadas, mas que mostra um real que, de alguma forma, conforta — por isso, ela é a indicação da semana do Entre Pontes, aqui no Notícias de Contagem. Afinal, se você não é apaixonado por literatura, é porque ainda não encontrou o livro certo, e estamos aqui para te ajudar nessa busca!
Até a próxima semana!

