Escritora contagense, Monique Pacheco, é enaltecida por deputados na ALMG

Escritora contagense, Monique Pacheco, é enaltecida por deputados na ALMG

Obra “Meu cabelo não é pro seu governo” conta a história de Iza, que sofre preconceito por usar cabelo natural

Comissão de Cultura debate a importância do livro “Meu cabelo não é pro seu governo”, da escritora mineira Monique Pacheco, com ilustrações de Ivanildo da Silva Leite (Hyval Leite) Foto: Clarissa Barçante

A necessidade de uma educação mais inclusiva e que abrace e respeite a diversidade foi destacada por parlamentares e convidados em audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta quinta-feira (14/12/23).

Os deputados enalteceram o livro “Meu cabelo não é pro seu governo”, da escritora mineira Monique Pacheco, como um instrumento educativo, por trazer luz a uma situação bastante comum em escolas: crianças negras que sofrem preconceito devido ao seu cabelo natural ser cacheado ou crespo. A obra pode ser obtida diretamente com a autora, que disponibiliza seu contato em seu instagram.

Auto identificada como uma mulher negra de pele clara, filha de mãe branca e pai negro, a autora, que é professora de História na rede pública de Contagem (RMBH), falou de seu próprio sofrimento no ambiente educacional e do receito de que seus dois filhos, também negros, passassem pelo mesmo.

“Eu queria ser a princesa, a noiva da festa junina e isso sempre me era negado. A gente cresce com a percepção de que não é merecedora de espaço na sociedade e com muita dificuldade de desenvolver a autoestima. Me surpreende que ainda hoje essa dor é muito sentida”, contou Monique.

“Nas visitas que faço em escolas, já ouvi depoimento de uma menina cuja mãe teve que se mudar de bairro, para ela poder mudar de escola, depois que teve que faltar às aulas durante um mês, por ser vítima de racismo”.
Monique Pacheco
Escritora

Monique Pacheco ressaltou que a luta contra o racismo é diária e frisou que seu livro não é só sobre cabelo, mas sim sobre a “dívida que a nossa sociedade tem com as crianças, mulheres e pessoas pretas em geral, que depois de mais de 300 anos de escravidão ainda hoje tem de lidar com uma sociedade convencida de que alguns serem humanos valem menos que outros por causa da cor de sua pele”.

“Gostaria de tomar a liberdade de sugerir um projeto de lei que proibisse o atendimento de crianças em salões de beleza para procedimentos estéticos de alisamento de cabelo. É um absurdo que crianças sejam submetidas a práticas tão agressivas”, completou.

Autor do requerimento para a realização do debate, o deputado Leleco Pimentel (PT) prometeu estudar a proposta da escritora. “Quero que este livro esteja nas bibliotecas das 22 escolas famílias agrícolas do estado. Não é sobre cabelo, mas sobre identidade. É sobre ter uma atitude política diante da vida, se posicionar”, disse.

A deputada Macaé Evaristo (PT) ressaltou que no Brasil o racismo e o preconceito racial estão muito ligados à cor da pele e ao cabelo, sendo comum o sofrimento e rejeição de crianças negras por parte das demais crianças e até mesmo da comunidade acadêmica. Na opinião da deputada, o sistema de ensino nos municípios e no estado se omite do debate racial”.

“Na minha infância, não tive acesso a uma literatura como essa, que nos humaniza. Pessoas negras sempre foram ilustradas de maneira depreciativa. A ausência, ainda hoje, de materiais como esse no ambiente escolar é triste.”
Macaé Evaristo
Dep. Macaé Evaristo

O deputado Professor Cleiton (PV) destacou que a atitude da personagem do livro, a Iza, de decretar um “estatuto do cabelo”, onde nenhum cabelo seja usado para oprimir ninguém, demonstra uma afirmação de negritude.

“Cabelos crespos e cacheados são belíssimos, são a origem e a identidade dos brasileiros, as pessoas precisam acordar para isso. As crianças são vítimas do racismo estrutural que impera na nossa sociedade”.

O ilustrador do livro “Meu cabelo não é pro seu governo”, Ivanildo da Silva Leite, destacou que o reconhecimento da importância da obra pela Comissão de Cultura da ALMG é um estímulo à continuidade de seu trabalho.

“Normalmente o ilustrador é pago pelo trabalho e ali cessa sua participação. Mas nesse caso, eu sou coautor da obra com a Monique, o que tem me trazido uma experiência nova. Tive a oportunidade de desenhar de forma diferente a imagem da mulher negra, trazer cor e alegria, para uma imagem que muitas vezes é desprezada. Tem sido muito gratificante a resposta das pessoas ao livro, me deixam emocionado”, completou.

 

Legenda da foto em destaque: Najara Pacheco e o ilustrador Ivanildo da Silva Leite Foto: Clarissa Barçante