Show de artistas locais movimentou a etapa final do “Movimenta Arte Urbana – Prêmio Avenida Teleférico”

Show de artistas locais movimentou a etapa final do “Movimenta Arte Urbana – Prêmio Avenida Teleférico”

“Contei os minutos para chegar a Contagem e cantar neste espaço que simboliza resistência. Salve Contagem e sua história” – disse o rapper Gog, antes de entrar no palco da avenida Teleférico, no bairro Água Branca, em Contagem, no sábado (28/5). O cantor esteve à frente de um dos shows que fecharam a última fase do Projeto “Movimenta Arte Urbana”, que promete resgatar a história, valorizar e incentivar artistas locais e preencher a grande lacuna cultural dos últimos anos na cidade.

Doze artistas grafiteiros contagenses cumpriram as etapas do edital com o tema “Memória operária: pessoas, lugares e histórias”, e levaram, com leveza e traço próprios, formas e cores alegres ao cimento de 12 dos 52 postes, em dois quilômetros da avenida Teleférico, uma via que remete à história da antiga fábrica de cimento Portland Itaú, fechada em 1988. Os grafiteiros iniciaram a empreitada cumprindo etapas de um edital publicado em maio de 2021, nesta primeira edição do Projeto Movimenta Arte Urbana – Prêmio Avenida Teleférico, que distribuiu cerca de 90 mil entre os 12 contemplados pelo edital.

“Teleférico: vocação para o esporte e a cultura”

Presente à atividade, a prefeita Marília Campos falou do significado do momento. “Quando se promovem atividades que a moçada gosta, as pessoas vêm. Estamos vendo isso hoje. Um dos objetivos da revitalização da avenida Teleférico vai ser, inclusive, para isto: para o lazer, o esporte e a cultura, para as famílias e a juventude”, destacou.

A secretária de Cultura, Monique Pacheco, disse que as atividades culturais têm sido mais intensas e que é uma “felicidade” ver o contagense ocupar as praças e parques para conhecer os artistas da cidade. “Tudo é desafio e temos muito o que aprender”.

A prefeita pediu que as duas grafiteiras falassem em nome dos demais artistas e Nani Oliveira e Fabs disseram que “ foi muito bom representar parte da memória do trabalhador nos postes teleféricos”. Nani contou que foram seis dias intensos, iniciados com a retirada dos resíduos do poste para depois aplicar a pintura que homenageia os trabalhadores (as) da cidade”.

Outro artista que imprimiu memória na av. Teleférico foi o Setko, que levou “o movimento de formigas trabalhando”, como ele próprio definiu. “Pintei o quarto poste do trecho definido para nós, nesta avenida. E o que me motivou como proposta foi um panfleto da greve do movimento operário de 1968 que encontrei pesquisando na internet. Formigas trabalham enquanto cigarras cantam”, como na fábula, disse ele.

“Ainda tem muito poste para a galera grafitar”, disse o artista Vira-lata, ao falar do pluralismo da cultura hip hop. “Mais que a premiação em si, o que valeu mesmo é este reconhecimento que a Prefeitura teve por nós e que incentiva demais artistas da terra”, opinou. O grafiteiro levou para o “seu” poste um recorte de figurino e de corte de cabelo da época dos anos 50 e 60, se inspirando nos rostos ovais da artista brasileira Tarsila do Amaral. Os outros artistas premiados foram: Jônatas Milagres Campos, Tot, Maisena, Gabriel Soma, Utora, Lauro Magalhães, Marcony, Vortex e Jaz.

Além do cantor Gog, as bandas de hip hop que se apresentaram na av. Teleférico fizeram uma espécie de simbiose com o público, a maioria jovens aficionados da cultura hip hop. São elas: Breno Nachi; Sagrada Escritura do Gueto e Dj Alexman. Para animar a noite, também aconteceu roda de break e as barracas do Programa da Economia Solidária.

Em meio ao seu canto, o brasiliense Genival Oliveira Gonçalves ou Gog, como é conhecido, recitou poesias, dizendo que “de praça em praça, com todos diversos, vários presentes e outros ausentes, esta é minha casa”. Ao exaltar a cultura e a educação, ele se definiu ‘paulofreiriano’, “pois estes dois pilares formam gentes iguais, mesmo com as diferenças como no desenvolvimento, na industrialização e no quotidiano de uma cidade como Contagem”.

Porquê dos postes

Conforme a história, os postes da avenida Teleférico, no bairro Água Branca, em Contagem, sustentavam cabos aéreos que serviam de transporte de calcário em caçambas, da pedreira de Carrancas, jazida em Lagoa Santa, antiga São José da Lapa, até a fábrica Companhia de Cimento Portlant Itaú, no coração da Cidade Industrial, sendo esta a primeira fábrica a ser criada em plena Cidade Industrial, nos idos de 1941.

O calcário, matéria-prima do cimento era transportado nas caçambas sustentadas pelos cabos que percorriam cerca de 28 km. Para deslizar as caçambas e promover a velocidade, estes cabos eram transpostos entre um poste e outro no trajeto teleférico. Além de transportar calcário, o teleférico servia para transportar alimentos e outras mercadorias e não era raro ver trabalhadores da fábrica e crianças pegarem carona nas caçambas.

Em 1984, a fábrica de cimento Portlant Itaú foi fechada pelo prefeito da época, Newton Cardoso, com a argumentação jurídica de poluição ambiental, com um pó cinza, cuja fuligem provocava doenças respiratórias, principalmente, para a população dos bairros Eldorado e JK. A fábrica ficou fechada até 1988, quando iniciou-se a construção do Shopping Itaú Power Center, cuja obra manteve as quatro chaminés da antiga fábrica de cimento, além dos postes.

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Fotos: Janine Moraes
Autor:Noeme Ramos