Vereadores de Contagem aprovam alterações em impostos municipais

Vereadores de Contagem aprovam alterações em impostos municipais

por Leandro Perché

Projeto do Executivo promove renegociação de dívidas, mudanças na isenção do IPTU e aumento da alíquota do ITBI de 2,75% para 3% do valor do imóvel

Após muito debate e polêmicas, a Câmara Municipal de Contagem aprovou, nesta terça-feira (28/10), o Projeto de Lei Complementar (PLC) 16/2025, que propõe incentivos e reduções para a quitação de dívidas do contribuinte com o Município, além de promover alterações no Código Tributário de Contagem (Lei 1.611/1983) em relação às regras de isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e ao Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI).

Em relação ao IPTU, o projeto restringiria a isenção do imposto a imóveis residenciais de titularidade de pessoa física e de uso exclusivo como moradia, com valor venal de até R$ 150 mil. No entanto, uma emenda de liderança assinada por todos os vereadores ampliou o benefício para imóveis de até R$ 192 mil. Outro dispositivo insere no Código Tributário a isenção a lotes oriundos de parcelamentos regulares pelo período de três anos, contatados a partir do registro do loteamento no cartório ou até a transmissão do terreno a terceiros.

A mudança mais polêmica foi o aumento da alíquota do ITBI, de 2,75% para 3% – ou seja, ao comprar um imóvel de R$ 200 mil, você pagaria R$ 5.500 para transferi-lo com a alíquota vigente; com a alteração, o valor do imposto passaria para R$ 6 mil. De acordo com a Prefeitura, essa alteração visa “à harmonização da legislação municipal ao cenário nacional e da região metropolitana – equaliza a alíquota em Contagem à de Belo Horizonte” e “une a busca pela sustentabilidade financeira do município ao princípio social da propriedade”.

E, por fim, o PLC traz uma série de medidas para permitir aos devedores a regularização de suas situações fiscais com o Município, incluindo descontos nas penalidades e acréscimos legais para o pagamento de créditos tributários e não tributários. Se a quitação for em parcela única, o desconto é de 100% em multa, juros e correções; dividido em 12 vezes, 90% de abatimento; em 24 vezes, há desconto de 70%; e, em 60 parcelas, 50%. A proposição traz outras regras relacionadas às dívidas que não se aplicam; à formalização do pedido pelo devedor e às suas obrigações para adesão e manutenção nesse “programa”.

Em mensagem que acompanha a matéria, a prefeita Marília Campos (PT) explica que “o projeto de lei complementar moderniza o ordenamento tributário municipal ajustando-o às realidades econômicas e sociais do Município, e fortalece a autonomia financeira de Contagem, condição indispensável para o desenvolvimento sustentável e para a execução de políticas públicas com recursos próprios. Trata-se, portanto, de uma medida técnica, responsável e socialmente justa, que equilibra o dever de arrecadar com o compromisso de promover justiça social e eficiência na gestão tributária”, diz a justificativa.

Controvérsias

O PLC 16/2025 gerou muito debate entre os parlamentares tanto em sua apreciação em primeiro turno quanto em segundo turno e redação final. Em plenário, a oposição reconheceu a importância da matéria em relação à isenção do IPTU e ao incentivo para a liquidação de dívidas, mas questionou o aumento da alíquota do ITBI e o fato de esses temas comporem o mesmo projeto.

“É um projeto importante, que tira muita gente da inadimplência, tirando juros e multas para que as pessoas regularizem sua situação com a cidade. Porém, contém uma artimanha da Prefeitura, pois beneficia alguns com isenções e reduções, mas prejudica aquele que compra e vende imóveis, com o aumento da alíquota do ITBI. São temas que poderiam vir em projetos separados, mas vieram juntos, para nos coagir a votar ‘sim’”, reclamou Pedro Luiz (PL).

Mauricinho do Sanduíche (PL), Denilson da Juc (Mobiliza) e Léo da Academia (PDT) pediram a palavra durante a discussão para fazer a mesma crítica ao projeto. “Projeto polêmico, que retira multas e juros para pagamento de dívidas, o que é bom para o contribuinte, mas também isenta grandes empreendimentos e aumenta o ITBI. É uma bomba e um absurdo, porque coloca os nossos mandatos em risco, na medida que sabemos que ninguém quer aumento de ITBI, mas somos obrigados a aceitar, por causa das isenções”, completou Mauricinho.

Diversos vereadores, incluindo o líder de Governo, Daniel do Irineu (PSB), fizeram a defesa do projeto e enalteceram a emenda construída pelas lideranças da Câmara. “Gostaríamos que não existisse imposto, mas temos que seguir as legislações, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, que exige que haja compensação dos benefícios que estão sendo oferecidos. Esse projeto corrige um problema histórico do IPTU, que é a inadimplência, buscando regularizar a situação do contribuinte; e, obviamente, busca um equilíbrio, pareando a alíquota do ITBI com outras cidades da região metropolitana”, explicou o vereador.

“A prefeita Marília Campos tem uma preocupação muito grande com a justiça tributária e com o direito adquirido. E a emenda de liderança é importante nesse sentido, ampliando a isenção do IPTU, que seria para imóveis de até R$ 150 mil, para aqueles de até R$ 192 mil, para beneficiar as pessoas que estão no programa Minha Casa Minha Vida, para que elas não passem a pagar o imposto. Isso foi pactuado entre os vereadores e o Governo, mantendo Contagem como a cidade com maior isenção do IPTU da região metropolitana”, completou Daniel.

Mauricinho e Pedro Luiz tentaram sensibilizar os outros vereadores no debate, mas também com uma tentativa de adiar a votação, por um pedido vista do primeiro, que não foi acatada pelo plenário. Ambos tentaram, ainda, alterar alguns pontos do projeto com emendas – sobretudo para manutenção da alíquota do ITBI e para a retirada da previsão de decreto do Executivo para regulamentar alguns pontos – mas algumas receberam pareceres pela ilegalidade, e outras não foram aprovadas pela maioria em plenário.

Por fim, o PLC 16/2025 foi aprovado em segundo turno e redação final com acréscimo da emenda de liderança, com 15 votos favoráveis, três abstenções – Denilson da Juc, Léo da Academia e Pedro Luiz – e voto contrário apenas de Mauricinho do Sanduíche. Agora, a proposição segue para o Executivo e entra em vigor a partir de sua publicação no Diário Oficial de Contagem, respeitando a noventena – 90 dias para a cobrança dos tributos relacionados.

Foto: Vereadores de Contagem aprovam alterações em impostos municipais | Câmara Municipal de Contagem